Maternidade

O que uma mulher é capaz de fazer por um filho?

O relógio biológico não tem piedade. Para ele, pouco importam as ambições, desejos, dificuldades ou necessidades da mulher. E quando a vontade de ser mãe bate na porta de forma tardia, conforme os olhares da ciência, o lembrete de que “seu tempo está chegando ao fim” vem de todos os lados. Mas quando a maternidade é realmente um sonho, ninguém segura a força feminina. Esse é o caso de Karina Steiger, cujo desejo de ser mãe lhe fez pedir ajuda financeira e atravessar o oceano.

Para ela, a sensação de estar preparada para a maternidade veio aos 40. Numa investigação para ver se além da mente, o corpo receberia tranquilamente uma nova vida, descobriu uma obstrução nas trompas. “Foram três anos de tentativas por meio da reprodução assistida. Meu marido enfrentou comigo cada fase do tratamento: dezenas de exames, testes, injeções na barriga… Começamos com o coito programado. Depois, veio a primeira fertilização in vitro, sem sucesso. Então, a segunda, também sem o esperado “positivo’”. Aos 43, o médico sugeriu uma ovodoação. Após longa pesquisa, ela e seu companheiro Pedro Corbetta entenderam que a chance que teriam para gerar um filho era por meio de um óvulo jovem e saudável de uma doadora. “Decidimos juntos que esse seria o nosso caminho e que falaríamos disso abertamente”.

Convictos sobre o que fariam, o casal recebeu a recomendação de realizar o procedimento na IVI, centro com o maior banco de doadoras de óvulos do mundo, em Valência, na Espanha. “A ovodoação é para quem realmente tem certeza de que quer ter um filho e não mede esforços para isso. Em nome desse amor todo que a gente tem, abre mão da própria genética.” 

O apoio psicológico foi muito importante para a tomada da decisão. “Desde cedo, minha psicóloga disse que eu estava preparada. O Pedro demorou alguns meses para tomar a decisão. Mas, quando percebeu que as minhas chances iam de 15% com meus óvulos para 70% com uma ovodoação, e que seriam óvulos saudáveis, de uma jovem, analisados em mais de 400 doenças… Tudo isso deu uma segurança muito grande para nós. Meus óvulos, com a minha idade, provavelmente viriam cromossomicamente com defeitos, e a chance de ter um filho com uma doença séria seria muito grande”. Segundo Karina, optar pela ovodoação é um processo lento, silencioso e provoca diversas desistências. “É, em geral, a última cartada de uma tentante”.

O entrave, no entanto, era já terem gastado suas economias nas tentativas anteriores. Ou desistiriam ou realizariam o sonho por meio de ajuda. Foi aí que resolveram acreditar no poder da empatia. Fizeram um vídeo contando sua história, divulgaram nas redes sociais e o resultado foi receberem apoio financeiro de quase 200 pessoas, mães, em sua maioria, o que eles chamam de rede de amor.

O casal embarcou para a Espanha, fez os últimos exames, a coleta de sêmen, a fertilização in vitro com o óvulo da doadora e a implantação do embrião no útero. “Chegamos da Espanha em um sábado, e, na segunda-feira, fiz o teste de gravidez. Então, meu médico me ligou e perguntou: ‘Já colocou espumante na geladeira? Tu estás gravidíssima!’. Nem consegui mais falar com ele, acho que desliguei o telefone na cara do médico. Não fazia outra coisa além de chorar, gritar e abraçar meu marido. Foi um dia muito feliz: eu esperava por aquilo havia mais de três anos.”

Não fazia outra coisa além de chorar, gritar e abraçar meu marido. Foi um dia muito feliz: eu esperava por aquilo havia mais de três anos.

Aos 44 anos, chegou o tão aguardado Enrico, seu “amor maior”. Ter vencido essa longa batalha motivou o casal a se tornar porta-voz sobre reprodução assistida, assunto tratado como tabu e pouco comentado. Passaram a falar publicamente sobre sua experiência e mergulharam de cabeça no “Nós tentantes – Projeto de Vida”. Ambos largaram seus empregos e voltaram seus dias a ajudar outras mulheres e homens que querem ter a chance de gerar um filho. 

Passaram a produzir podcasts e realizar eventos, agora on-line, devido à pandemia, nos quais contam sobre suas tentativas, as frustrações e a felicidade de conseguirem vencer os obstáculos e se tornarem pais após os 40 anos. Também contam histórias de outros tentantes e dicas de diversos especialistas que abordam aspectos psicológicos, genéticos e jurídicos. 

Quando questionada sobre a vontade de ter mais filhos, Karina confirma: “o desejo existe. Tenho três embriões na Espanha. Um que doamos para uma família, outro pretendemos doar para a ciência. Se eu decidir ter, o terceiro embrião aguarda congelado nossa decisão.

Instagram @nostentantes

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