Vida

Fátima Torri e Simone Bach em um papo para além do consultório

A relação de Fátima Torri, editora da Fala Feminina, e Simone Bach, nutricionista e dona do canal @cozinhabachoficial no YouTube, teve início há dois anos no consultório da Simone. Como as conversas sobre alimentação, saúde física e mental rendiam horas de trocas e boas risadas, ambas decidiram firmar parceria e realizar lives para tratar de assuntos sobre os quais muita gente tem vontade de perguntar, mas poucos têm coragem de fazer. Ah, e essa coragem a Fátima tem!

Compartilhamos com você alguns highlights do papo incrível entre as duas que rolou no dia 29 de julho, no Cozinha Bach, com o tema “Qual a tua fome?”.

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Fátima: A gente tem um mundo completamente pessoal e intransferível, mas em comum, a gente tem uma enorme fome. E aí que entra nosso tema de hoje.

Simone: A dificuldade está em identificar o que é a fome, nas formas como ela se manifesta. A busca incessante pela perfeição feminina é uma particularidade.

Fátima: Nós queremos controlar tudo, sermos tudo, fazer tudo perfeitamente, onde a gente põe aquilo que não é completamente controlável? Na comida, na bebida.

Simone: Isso é um trabalho que não é só de nutricionistas, mas em conjunto com outros profissionais. Conseguir que de fato cada um perceba sua fome, de onde ela vem, com que emoção está envolvida, se é uma questão de ansiedade, de tristeza, de culpa, de controle,…

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Fátima: Comer consciente é superimportante. A gente nunca está nos lugares inteiramente. Teu pensamento está em muitos lugares e tu não te dá conta de olhar para nada. Só de cumprir uma agenda no dia a dia. As mulheres chegam em casa completamente cansadas. Se não têm filhos, têm coisa para arrumar, trabalho para terminar, companheiro ou companheira, e fica numa situação de enorme solidão de si mesma.

Simone: Eu observo muito no consultório situações de mulheres com filhos menores que estão na fase de introdução alimentar, mas que suas refeições não são prioridade. Diferente dos homens, a menos que as tarefas sejam bem divididas.

Fátima: A fome da mulher me parece estar muito baseada na solidão. De mulher que tem que cuidar de tudo.

Simone: Muitas vezes é uma necessidade de controle, de não conseguir delegar. 

Fátima: Os homens controlam o mundo lá fora. Mas as mulheres têm essa coisa de não liberar muito a cogestão, o que é uma coisa de poder feminino.

Simone: Planejamento da comida da casa acaba sendo uma função normalmente feminina.

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Fátima: Qual o tom da nossa fome? Tem um tom muito alto que, para mim, é a necessidade do apagamento. Quando tu precisas usar drogas ou álcool. E as mulheres estão substituindo o prato pelo copo. E se criam outros transtornos.

Simone: E às vezes vem uma fome de merecimento no final do dia, que não é física, é de merecimento. Normalmente com essa fome mais emocional se come mais alimentos hiperpalatáveis, com mais gordura e mais açúcar.

 Na pandemia a gente viu muito a fome do amor, da solidão, o vazio, para preencher por não ter eventos familiares, com amigos, vimos a fome com mais culpa, que é confundida com a compulsão. Uma fome social é quando tu cometes exageros em eventos com mais gente. A compulsão é um exagero que te faz sentir culpa e gera desgaste emocional e físico maior. E normalmente acontece quando estamos sozinhos.

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Simone: Tem pessoas que perdem o apetite com questões emocionais. São emoções mal digeridas. Tem muita relação com a conscientização da emoção envolvida. Análise e terapia ajudam muito na percepção do que gera a fome: raiva, mágoa, culpa, ansiedade e angústia. Várias emoções podem estar envolvidas nessa fome.

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Fátima: Nossa infância nos constitui. Quando tu vê, vai comer a comida da lembrança, da memória. Aquela salada de batata que minha mãe fazia. Tu não comes um merenguinho, tu comes toda a memória da tua infância.

Simone: A vontade de comer especificamente algo não é problema nenhum. Não adianta querer enganar. Tu queres merenguinho, não vai adiantar banana com canela.

Fátima: É melhor não substituir! Sente o prazer de comer o que tu queres!

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Simone: Tem esse falso conceito de que para comer bem tem que ser algo muito elaborado, com ingredientes difíceis de achar. Parece que o velho arroz, feijão e carne com salada não representa o saudável, parece uma necessidade de tornar mais difícil.

Fátima: Ficou chato comer. Tu abres uma revista e está todo mundo falando: “come arroz e batata doce”. Agora passou a febre da crepioca.

Simone: Se gosta não tem problema, o problema é comer por imposição da mídia, da indústria.

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Fátima: A pandemia trouxe isso de cada um comer sua comida. Todo mundo foi fazer pão, foi para a cozinha. Teve muita coisa boa. Foi uma loucura o que a gente viveu, mas a gente viu que tem saída. Toda sobra de comida dá outro prato.

Simone: Cozinhar para o outro é um ato de amor. E tem gente, principalmente que mora sozinha, que não cozinha pra si.

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Fátima: Nós comemos rápido porque não nos permitimos sentir. Como tu vai sentir alimento no teu corpo se tua cabeça está hiperconectada?

Simone: Tive uma crise de cozinhar na pandemia. Depois de vacinada, fui num buffet e fiz todo ritual de comer a sopa, comer salada, depois os pratos quentes, nunca valorizei tanto isso.

Fátima: A gente só passa a ter consciência quando está diante de um dilema vital.

E vai ter mais papos entre Fátima e Simone! Acompanhe nossas redes que em breve divulgaremos a data do próximo encontro. E a pauta será cocô. Curiosa? Então segue @fala.feminina no Instagram e acompanha!

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