Fundada nas relações de afeto familiares, a Biamar, resultado da união das famílias Biazoli e Marmentini, de Farroupilha, é uma empresa marcada pela figura das mães trabalhadoras. Há 39 anos, a figura feminina que alia a maternidade e o empenho profissional resume o perfil dessa gigante da produção de malhas e tricôs, uma das marcas mais importantes do Brasil, focada em malharia retilínea com tecnologia de ponta e de produção 100% nacional.
Dona Vite, a grande mãe
A grande personagem da família Biamar é a sócia-fundadora Devilda Marmentini Biazoli, carinhosamente conhecida como Dona Vite. Costureira desde a infância, ela está nas raízes do negócio, iniciado ao lado do irmão, Itacir Marmentini, em 1986. A dupla ingressou no ramo do vestuário com uma pequena confecção localizada em um porão de 30 metros quadrados, com dinheiro emprestado do pai, em turnos de trabalho que não raro se estendiam das seis horas da manhã até a meia-noite, sete dias por semana.
Devilda se debruçava sobre as máquinas e cuidava das crianças ao mesmo tempo – conforme iam crescendo, Silvia, Luciano e Suelen, hoje com 49, 45 e 32 anos, respectivamente, brincavam aos pés da mãe e aprendiam o ofício, até se tornarem peças fundamentais do organograma da empresa. Maria Marmentini, mãe de Devilda e Itacir, que também criou os filhos costurando, apoiava o empreendimento com auxílio nos acabamentos, botando botões, fazendo o almoço, tomando conta dos netos.
Dona Vite teve uma infância pobre. Ia para a escola descalça, caminhando dois quilômetros na ida e outros dois na volta. Sonhou ser professora, mas aprendeu a costurar em vez de seguir estudando. Aos 11 anos, ainda sem energia elétrica, fez o enxoval do irmão à luz de vela e lampião. Casou-se cedo com Segundo Biazoli e, em meio a tantas dificuldades, pediu a Nossa Senhora de Caravaggio, de quem é devota até hoje, para conseguir trabalho. Mesmo sem dinheiro, o casal saiu da colônia e se instalou na cidade.
– Confio muito em mim, eu acredito que posso – afirma Dona Vite.
O negócio dos irmãos, que começou como uma confecção e se tornou uma malharia, não demorou a prosperar diante de tanto empenho. Trabalhando como caminhoneiro e vivendo na estrada, Segundo Biazoli decidiu vender o veículo para investir na empresa. Todo dinheiro que sobrava era aplicado em máquinas e tecidos. Em 1991, a Biamar deixou o segundo endereço e ganhou o seu prédio próprio, com 530 metros quadrados e 30 funcionários.

Pensando na história bem dividida entre o empreendedorismo e a maternidade, Devilda afirma que sempre sonhou com uma vida com filhos e família. A diretora enfatiza:
– Queria dar o melhor para os meus filhos. Meus minutos fora da máquina eram com eles. Sempre os tive perto. Ficávamos muito tempo juntos. Os meus filhos são tudo. Se eu tiver que defendê-los, sou uma leoa.
A dedicação bem dosada entre a fábrica e a casa se provou uma fórmula de sucesso.
– Eu queria que crescessem, estudassem, trabalhassem e tivessem o seu sustento, para voarem com a sua liberdade. Protegia, mas não ficava em cima, ensinava a serem autônomos. Eles faziam a parte deles trabalhando. Hoje os três têm espírito empreendedor. Sem eles, seria difícil – constata Devilda.
Uma fábrica de muitas mães
Criada sob a máquina de costura, Silvia Biazoli começou ajudando a fazer abrigos, por volta dos 12 anos. Introjetou o espírito de intenso trabalho e dedicação ao negócio familiar.

Queria ser professora, mas foi demovida da ideia pela mãe. Graduou-se em Administração de Empresas e Ciências Contábeis, em uma rotina de estudos que conduziu simultaneamente aos longos turnos de trabalho na Biamar. Aprendeu a parte de finanças com o tio Itacir e sempre trabalhou com ele. Aos 42 anos, tornou-se mãe de Lorenzo, o xodó dos avós, por enquanto o único neto. O menino hoje tem oito anos.
Esposa de Itacir, Sônia Maria Zucco Marmentini, 56 anos, tem formação acadêmica em Ciências da Computação. Passou pela área de marketing e hoje é gerente comercial, responsável pelo varejo da Biamar. Tem dois filhos, que trilharam outros caminhos, fora da malharia – um escolheu a engenharia, o outro seguiu os passos da mãe. Sônia é mais uma das mães trabalhadoras da empresa serrana.
– As mulheres são a alma e o DNA da empresa. A Biamar é uma família que vem de uma família. É um semear de amor. O que a gente semeia, a gente colhe – reflete Sônia.
A gerente comercial relembra como foi conciliar seus dois grandes papéis: o de mãe e o de trabalhadora.
– Em muitos momentos, me questionava sobre a minha eficiência como mãe. Tinha que me dividir entre o trabalho, que dependia muito da minha presença, e os filhos, que precisavam de uma mãe presente também. Não foi nada fácil, foi uma baita ginástica, mas tive muita sorte de ter um companheiro que sempre esteve muito presente – relata a gerente. – Criar é difícil e educar é muito mais difícil. Que tipo de homem eu queria criar para o mundo? Acho que tivemos muita sorte e fizemos boas escolhas, porque eles são dois homens maravilhosos – complementa.
Ela também destaca a atuação das inúmeras outras mães que dedicam suas jornadas à Biamar:
– Muitas tocam suas famílias e seus negócios aqui. Muitas já não têm mais os pais dos filhos, mas seguem criando-os da melhor forma possível.
Três gerações juntas
Os produtos da Biamar passam por muitas mãos dentro da planta de 23 mil metros quadrados – até 2022, eram 8 mil metros quadrados, momento em que a área triplicou –, com 135 teares, e também fora dali. São 450 funcionários, uma centena de terceirizados e 6 mil clientes ativos revendedores. A empresa é responsável por toda a cadeia produtiva, do design à entrega, priorizando práticas sustentáveis e inclusivas.
A presença feminina é soberana: mais de 80% do quadro funcional é formado por mulheres, grande parte delas mães. A empresa custeia a creche de pelo menos 200 crianças até 13 anos, permitindo que as mulheres tenham tranquilidade para trabalhar, sabendo que os filhos estão bem assistidos. A festa de final de ano, que recebe também os filhos de até 12 anos, é um grande momento de celebração da família Biamar. Muitos funcionários veem seus filhos ingressarem no mercado de trabalho como menores aprendizes da malharia.
– Me sinto mãe das crianças que nasceram aqui, e são muitas – confidencia Dona Vite.
Entre as muitas mães trabalhadoras da Biamar está Maria da Glória Bortolanza, funcionária do setor de corte de tecidos há 10 anos. Ela foi para dentro da fábrica a partir de uma parte da família: a filha Indianara Bortolanza. Depois trouxeram também Pablo Bortolanza, filho de Indianara e neto de Maria da Glória.
– Ser mãe é um dom de Deus, e é um privilégio ser mãe de três filhos. Com os netos, as emoções são dobradas. Vó chora de alegria e chora quando eles estão doentes – conta Maria da Glória.
A funcionária diz que a Biamar é um lugar maravilhoso e que desejava que Pablo também conseguisse uma colocação no mesmo local. Ela se emociona quando o neto avisa, às 5h da manhã, que está saindo para trabalhar.
– Já ganhei meu dia. É maravilhoso – confidencia Maria da Glória.
Indianara é mãe de Pablo e trabalha há 15 anos na Biamar. Ela afirma que aprende algo todos os dias e que os representantes das três gerações de sua família têm o peito “cheio de orgulho” por compartilharem o endereço profissional.
– Meu filho estar ali perto e minha mãe estar ali perto é muito bacana – conta Indianara, que sempre destaca para o filho a importância de se ter um emprego: – Ele nos torna dignos. Um emprego vai torná-lo um grande homem.
Ela reflete sobre o papel e os inúmeros desafios da maternidade:
– Ser mãe é um turbilhão de sentimentos. Ser mãe é a coisa mais maravilhosa da vida. Ao mesmo tempo que o amor é intenso, tem a responsabilidade e a preocupação de saber educar, de mostrar como é o mundo, porque se tu não mostrar para o teu filho como é, o mundo vai mostrar para ele, e aí pode ser bem pior.
Sobre a convivência do trio na Biamar, Indianara diz:
– Sou muito feliz e muito grata a Deus por tudo isso que vivo aqui dentro. É muito legal que a minha conexão com o trabalho acaba sendo uma conexão com a minha família.
O afeto, essência do trabalho
A valorização do afeto nas relações familiares, especialmente entre mães e filhos, inspira até mesmo campanhas da marca. Em 2024, na iniciativa batizada como Lado a Lado, a ideia, segundo Suelen, foi “entregar produtos que lembrem um abraço”: casacos, blusas, blusões, capas e calças, além da numeração infantil, que permitem “tecer histórias” nas interações do dia a dia e também nas ocasiões especiais.
Outro pilar forte que Devilda ergueu na Biamar é o da solidariedade. Quando as catastróficas enchentes de maio do ano passado devastaram o estado, a fábrica reservou cinco teares para confeccionar cobertores com a temática do Rio Grande do Sul para doação aos flagelados. Produzia-se ao ritmo de mil unidades por semana, repetindo uma ação que havia sido implementada para ajudar também as vítimas das inundações de setembro de 2023. A Biamar também repassou calças, blusas, casacos, jaquetas, cachecóis e calçados, além de produtos de limpeza e higiene, à população atingida.
Pouco depois, em agosto último, a Biamar estreou no segmento de decoração para a casa com a Biamar Home e a produção de capas para almofada, capas para travesseiro e mantas para sofá. Os cobertores confeccionados para a calamidade gaúcha anteciparam o lançamento desse braço do negócio, antes previsto para mais adiante. A primeira coleção teve 10% da renda destinados a causas e instituições beneficentes.
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Fotos de Laísa Rigon