Queremos o poder igual ao dos homens, para fazer o que eles fazem?
Há tempo as personagens mulheres vêm ocupando o lugar que antes era cativo dos homens em filmes e seriados de super-heróis. Lutam com superpoderes e repetem um mundo masculino como se precisássemos copiar, como se não tivéssemos nosso próprio tipo de poder!
Há, no entanto, uma leva de filmes e séries em que as mulheres brigam pelo poder que mata, viola. São as que querem – ou precisam, por mortes de companheiros – liderar o narcotráfico. E acabam por fazer tudo que eles fazem.
Mas as mulheres precisam imitar o mundo masculino para ter poder?
Rainha do Sul, com a brasileira Alice Braga, é uma série dessa leva. Glamouriza o tráfico, naturaliza a violência. A personagem é forte, bonita e briga de arma em punho para dominar o cartel. E chega ao pódio quando consegue ter o seu jatinho, as roupas mais caras, os acessórios mais incríveis. Reproduz a cultura dos homens mas, claro, com roupas apertadas e seios à mostra. Vivem com a força masculina e com o pior que uma mulher pode ambicionar: ser objeto. Uma imitação do mundo masculino, que usa o poder para matar, roubar, traficar, torturar, seviciar mulheres e crianças.
Queremos reinar no mundo do crime? Queremos usar nossa inteligência, ser espertas para fazer valer um mundo que faz mal à humanidade e que nos torna menores? A eficiência feminina para reproduzir o pior que os homens criaram e a que mais oprime as mulheres. É uma vida de droga. E quem quer vencer nessa vida?
E nós reproduzimos isso aqui mesmo na vida real, sem câmeras ou narcotraficantes no cangote. Quantas mulheres no mundo corporativo imitam a gestão das metas, da cronometria, das exigências que muitos de seus chefes impõem com autoritarismo e desrespeito? Achamos que precisamos nos impor para negociar, temos que “colocar o pau na mesa”. Será? Não acredito nisso. Penso que a gestão pelo afeto produz mais resultados e pessoas mais felizes. E a mulher já tem poder. Um poder maior do que o dos homens. Não precisamos imitá-los para sermos melhores e criarmos um novo mundo.
Por Fátima Torri