Vida

Consta nos astros: ciclos, aprendizagens e Astrologia com Amanda Costa

Entrevista por Lívia Pinent*

O geminiano Chico Buarque, em Dueto, nos diz:

Consta nos astros, nos signos, nos búzios

Eu li num anúncio, eu vi no espelho

Tá lá no evangelho, garantem os orixás

Serás o meu amor, serás a minha paz

Mas antes mesmo da música terminar, ele alerta:

Mas se a ciência provar o contrário

E se o calendário nos contrariar

Mas se o destino insistir em nos separar

Danem-se os astros (os autos), os signos (os dogmas)

Os búzios (as bulas), anúncios (tratados), ciganas (projetos)

Profetas (sinopses), espelhos (conselhos)

Se dane o evangelho e todos os orixás

Serás o meu amor, serás, amor, a minha paz

Com as certezas incertas de todo o bom geminiano (com sol, lua, mercúrio e vênus em gêmeos. Sim, eu fui ler o mapa astral do Chico Buarque), o poeta nos diverte com o jogo de palavras e o uso das crenças quando lhe convém.

Mas e quando sabemos um pouco demais sobre o assunto para simplesmente ignorar os astros e os signos?

A também geminiana Amanda Costa é astróloga há mais de quatro décadas e uma das pioneiras no Brasil a escrever para a internet. Eu, pessoalmente, posso dizer que o meu primeiro contato com a Astrologia foi lendo os horóscopos da Amanda na Zero Hora ou no Portal Terra. Na época, nós só liamos o signo solar e mal sabíamos o ascendente. Hoje lemos signo solar, ascendente, lua, signo dominante no mapa, vênus, mercúrio, saturno, meio do céu … Ufa!

Quando a astrologia começou a ficar tão complexa? Quando nos tornamos viciados em horóscopos, ansiosos para a meia-noite do primeiro dia do mês para ler as previsões de cada signo? Quando que a astrologia tomou esse papel tão sério nas nossas vidas?

A nossa conversa com a Amanda Costa nos ajuda a desvendar o mistério e o fascínio desta senhora milenar chamada Astrologia:

Fala Feminina: Começando pelo óbvio: Amanda, qual o teu signo solar, tua lua e o teu ascendente? E o que cada um diz sobre ti?

Amanda Costa: Nasci sob Sol e Ascendente no signo de Gêmeos, Lua em Aquário e Meio-Céu em Peixes. Conversas do Ar e da Água. O conjunto da obra tem a ver com uma pessoa muito curiosa sobre tudo, que ama conhecer as pessoas e o funcionamento do mundo, é apaixonada por arte e usa a Astrologia como meio de comunicação e de aprendizado.

FF: Quando a astrologia deixou de ser só um interesse na tua vida para ser uma profissão? Como foi esse processo?

AC: Comecei a estudar Astrologia na década de 1970 com 15 anos, uma espécie de continuidade de pesquisas ligadas ao autoconhecimento e à espiritualidade desde a infância e também ao Yoga e meditação que comecei a praticar sozinha aos 12 anos. Mais do que um interesse lúdico ou intelectual, tudo isso me parece mais ligado ao ser, a uma coisa da minha essência. Tão natural e fluido como estudar Astrologia em livros e trocar impressões com amigos, aos 18 anos tive a sorte de encontrar uma professora maravilhosa, a astróloga alemã Emma de Mascheville, que ampliou e aprofundou minha visão. A Astrologia simplesmente me aconteceu. Passou a ser uma profissão sem que eu percebesse. Fazia mapas astrais de amigos, que foram indicando pessoas conhecidas, comecei a atender com hora marcada… E os amigos é que “me avisaram” que eu estava trabalhando com os atendimentos, que deveria começar a cobrar, afinal estava dedicando muito tempo para isso. Nunca olhei para a Astrologia como um negócio, embora sempre tenha sido um meio de subsistência para mim.

FF: És uma das pioneiras da astrologia na web. Mas para ti, na vanguarda do movimento e sendo uma profissional madura na área, como tens visto essa enxurrada de conteúdo astrológico em todos os canais digitais?

AC: A enxurrada do conteúdo astrológico resulta do grande interesse que as pessoas têm, que sempre tiveram, aliás, mas agora está mais acessível para todos e muito fácil e rápido produzir e mostrar os conteúdos. E muitos entenderam que é um filão para explorar comercialmente. Tem muita coisa boa, astrólogos sérios fazendo excelentes trabalhos, mas também tem muita bobagem, invencionice, mau uso da teoria, viés de confirmação, salada de frutas nova era…

FF: Tu sentes que existiu um momento, uma virada, em que as pessoas passaram a buscar mais informações sobre Astrologia como uma forma de desenvolver espiritualidade e autoconhecimento? 

AC: O ponto de virada foi nos anos 1960, desde então a onda vem crescendo; com o advento da internet foi virando um tsunami, hehe. Estamos vivendo a transição da Era de Peixes para a Era de Aquário, cujo início matemático e astronômico se dá por volta de 2.350. As transições costumam levar, segundo observação histórica, em torno de 500 anos. Os primeiros lampejos da Era de Aquário estão no século XVII, com a gradual expansão científica e XVIII, com as revoluções sociais e políticas. Momentos de grande mudança na humanidade são acompanhados de expressões em diversas áreas. Aquário é um signo ligado ao conhecimento, à ciência, à tecnologia e ao coletivo, ao social, à humanidade e tem como valores a igualdade, a fraternidade e a liberdade. A espiritualidade não é um tema especificamente aquariano, mas pisciano, contudo é inerente a todo humano, e está havendo uma mudança profunda na forma de lidar com isso. A Astrologia é ligada à Urano (na mitologia o deus que deus que rege os céus, os astros, as estrelas, o espaço sideral), e foi o primeiro planeta a ser descoberto através de uma tecnologia, o telescópio, em 1781; até Saturno vemos a olho nu. Urano corresponde a Aquário. A Astrologia é uraniana e aquariana, e nasce nos primórdios da humanidade quando olhávamos para o céu e percebíamos claramente as conexões dos eventos celestes com a natureza em nosso planeta e em nós mesmos. Estamos resgatando um elo perdido.

FF: Existe remédio para mapa astral desfavorável? E que lições a gente pode tirar de ciclos desfavoráveis?

AC: Não existe mapa astral desfavorável, trânsito desfavorável e tal. Mas pode haver interpretação desfavorável, eis a questão. Há muitas distorções a partir das crenças e julgamentos dos indivíduos. O que vemos nos mapas astrológicos é a representação de um potencial, com possibilidades e probabilidades; depende de como essa informação é interpretada e o uso que fazemos dela. Há configurações indicadoras de embates, dificuldades, mas tudo depende de nosso nível de consciência, de conhecimento de si, do mundo, das pessoas. Tudo é oportunidade de crescimento, desafios naturais do processo evolutivo.

FF: Na tua vida pessoal, como tu usas as tuas ferramentas e conhecimento astrológico ao teu favor? E como lidar com esse conhecimento tão profundo e ainda tão desconhecido da maioria de nós. Sentes que precisas intervir em coisas/ações, ou prefere não fazer?

AC: Tudo é experiência e aprendizado. Continuo aprendendo sempre. Na rota para os 61 anos daqui a alguns dias, acho que tenho sido uma boa aluna. Às vezes levo umas boas bordoadas dos professores, mas sei que as feridas e dores se curam de dentro pra fora. Tenho sensibilidade, paciência, escuta.

Ao interpretar o simbolismo astrológico para as pessoas acontece uma interação; atuo como uma intermediária, uma facilitadora para que encontrem os caminhos em si e, se possível, aproveitem seus potenciais. Auxiliar a pessoa a se ver, desenvolver o que está na semente, mostrar o que às vezes está oculto, mas não escondido.

FF: Falando em ciclos não favoráveis, de forma coletiva: o que te preocupa hoje? O que vês no céu que pode prever situações delicadas e complicadas para nós, especialmente no Brasil?

AC: Me preocupa hoje é a falta de humanidade, de empatia, de compaixão e de respeito, a desigualdade social, a destruição da natureza, a regressão cognitiva…

Astrologicamente, seguimos com configurações coletivas/mundiais que apontam para as grandes dificuldades como as que estamos vivendo até o fim deste ano, início do ano que vem. Melhora gradual do problema da pandemia em 2022, no primeiro semestre, provavelmente com maior imunização por vacina e novas medicações. O Brasil começa a evoluir positivamente em meados de 2023, o mundo também. Há uma perspectiva muito boa para o meio da década, os anos 2025 e 2026 apontam para um momento muito especial para todos nós.

FF: Qual o futuro que vês para a astrologia, dentro da nossa sociedade? Vamos coletivamente passar a conhecer ainda mais sobre o assunto, ou será que vamos enfrentar um esgotamento?

Algumas pessoas vão se conhecer mais, outras só vão acumular informação de todo tipo e fazer confusão (risos). A Astrologia, esta senhora milenar, sempre esteve presente em todas as sociedades; vicejou em algumas épocas, em outras foi negada e renegada, voltou a ser valorizada e reconhecida, até incensada. A moda pode passar, mas a Astrologia segue, como a vida.

*Lívia Pinent é doutora em ciências da comunicação, antropóloga, e fascinada por signos (aqueles que vêm dos astros e aqueles que vêm da simbologia) desde que leu o primeiro horóscopo pela Amanda Costa no Caderno Donna em 19.. e alguma coisa.

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