Em um concurso de misses que lugar vocês ficariam?
Na juventude eu ficaria na posição de quem organiza o evento.
Sim. Nunca me vi bonita. E, claro, o entorno da infância e adolescência reforçavam a percepção.
Magra, de ombros caídos, barriga sempre saliente por comer muito rápido, com o rosto fino e comprido, lábios que eram um risco, patologicamente curiosa, meu queixo empinado, chegava antes de mim.
Já, o cabelo, era bem pior: seco, crespo sem forma nenhuma, não caia ao longo do rosto. Crescia para os lados. Sabem quando alguém leva um susto e os desenhos mostram um cabelo espevitado, duro.
Na época meninas de lábios grossos, tamanho médio, cabelos escorridos e leves e muita doçura é que faziam sucesso.
Eu era como sou hoje. Nada leve. Opinativa, intensa. Nada feminina para a época.
Mas, e ainda bem, eu fui sendo dobrada nas esquinas da vida. ME aprendi.
E, hoje, acho que eu seria uma boa miss simpatia – aquela que se relacionou bem com todas as outras e entendeu os seus sentimentos. Até porque fui sendo razoavelmente simpática para poder sobreviver neste mundo que AINDA vê as mulheres como em um concurso de miss: com medidas perfeitas, simpáticas, inteligentes e, agora, mães exemplares e tudo que já sabemos.
A vantagem de agora? Ah, podemos falar, nos expor, mostrar nossos corpos do jeito que são. Mas ainda pagamos o preço de não ter medidas perfeitas. Em tudo.
Fátima Torri
