Mãe de primeira viagem do bebê Felipe, Karina Fensterseifer, 34 anos, mora há quatro em Amsterdam e vem explorando o velho continente com os parceiros Bruno, e a cachorrinha Lupita. Além da Holanda, já morou nos Estados Unidos e no Peru. Apesar de avaliarem voltar ao Brasil, o Coronavírus tem sido um entrave para o retorno. “Um filho e uma pandemia fazem a gente repensar nossas prioridades. Estar perto dos nossos, contribuir pro desenvolvimento do nosso país, tudo isso nos motiva a voltar. Aqui nos sentimos como expatriados, não como parte da sociedade”, afirma Karina, que conta mais a seguir sobre a experiência.
“Dá pra abordar a questão do que é ser mulher fora do Brasil sob muitos aspectos, mas gostaria de destacar a sensação de liberdade que todas as minhas vivências internacionais me proporcionaram. Para nós, mulheres, o peso das cobranças sociais e familiares pode ser pesado, então estar em um local novo, onde ninguém te conhece, é libertador e permite que abramos espaço para novas experiências, crenças, hábitos. Sinto menos cobranças aqui, mas também porque me isolo delas. Me cerco de pessoas que me aceitam como sou e, como não estou verdadeiramente integrada na sociedade holandesa, nem percebo se há cobrança ou julgamentos nessa esfera da vida social.
Sempre fui bem recebida e me senti bem-vinda, tanto aqui na Holanda, como nos EUA ou no Peru.
No entanto, cada país tem seu olhar para o papel da mulher na sociedade e é claro que isso impacta na forma como somos tratadas.
Seja nas interações do dia a dia ou nas políticas públicas, mais ou menos favoráveis às nossas pautas. Às vezes é preciso adaptar alguns comportamentos para ser melhor compreendida. Exemplo: no Peru me recomendaram não ser tão simpática com o porteiro do prédio porque minha simpatia seria mal interpretada. Já nos EUA e na Holanda preciso ser bastante assertiva na comunicação, num nível que pode soar como arrogante ou agressivo no Brasil.
Na Holanda, é claro que existem casos de violência contra a mulher e outros problemas graves, mas de forma geral temos segurança e necessidades básicas atendidas. A divisão do trabalho doméstico e cuidado com os filhos é mais equilibrada. Inclusive, chama a atenção de quem visita Amsterdam o número de pais homens com bebês, levando na escola, no parquinho etc. Ainda há gap salarial e no número de mulheres em cargos de chefia, mas seguimos vendo melhorias e mudanças, como aumento da licença paternidade e possibilidade de trabalho part-time após o nascimento do primeiro filho.
Sobre a maternidade, nem sempre é fácil sem uma rede de apoio. Cada momento novo que vivemos com o Felipe gostaríamos de poder dividir com nossos familiares, mas a distância e a pandemia não permitem (para além das vídeo chamadas). Aqui em Amsterdam vemos muitos casais na mesma situação, com frequência tendo sequência de 2 ou 3 filhos, o que sempre nos surpreende. Os holandeses colocam seus bebês na cadeirinha da bicicleta e seguem em frente. A cidade tem infraestrutura maravilhosa pra quem tem filhos, com muitos parques e atividades lúdicas. Também há uma ajuda do governo, tipo bolsa-família, que todos recebem para ajudar com as despesas com as crianças (para compensar os altos impostos e custo das creches).
Devido à pandemia, me dedico 100% ao filhote. Mas como sou co-fundadora da plataforma de internacionalização Hub55, com sede nos Estados Unidos, retorno ao trabalho quando as fronteiras entre Brasil-Holanda-Estados Unidos forem abertas novamente e pudermos retomar nossos projetos e imersões empresariais.”
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