Maternidade à inglesa

Fernanda Zaffari, 45 anos, partiu para Londres em 2014. Já tinha Rocco, hoje com 8 anos, e lá teve Lola, de 6 anos. Atualmente, se divide entre dar conta dos filhos e a rotina de correspondente internacional.

Fernanda Zaffari, 45 anos, partiu para Londres em 2014. Já tinha Rocco, hoje com 8 anos, e lá teve Lola, de 6 anos.  Atualmente, se  divide entre dar conta dos filhos e a rotina de correspondente internacional. Diante das diferenças gritantes de cultura, especialmente sobre a criação dos filhos, ela diz estar fazendo uma curadoria das informações para manter o afeto característico das mães latinas. Ao mesmo tempo, tem aprendido com os ingleses sobre a importância da independência das crianças desde a primeira infância.

Com vocês, o relato de Fernanda sobre essa experiência rica e desafiadora.

“Eu já tinha morado aqui sem filhos. Depois voltei com um filho muito pequeno.Ele tinha um ano e meio. Quando vim antes, eu fazia o meu estilo de vida. Tu consegue escolher uma maneira e viver com algumas adaptações culturais, mas é muito mais simples. No momento que tu tem filho, e eu tive a experiência de ter uma gestação e uma filha que nasceu aqui, aí as coisas são diferentes. Eu optei hoje por fazer uma curadoria cultural com meus filhos. Sempre tem estranhamentos. A gente mantém coisas brasileiras, mas, eles frequentam escolas inglesas e têm amigos ingleses. Então, eles têm que transitar nesses dois mundos.

Uma coisa engraçada… quando o meu filho era bem pequeno, na primeira escolinha que ele foi, ele tinha dois ou três anos e pouco, e a professora chamou para uma reunião e mostrou os desenhos, foi falando do desenvolvimento dele e lá pelas tantas ela nos olha e fala: ‘tem um problema. Ele não põe o casaco sozinho’.

Eu fiquei olhando e achei que ela ia começar a rir, qual o problema de não colocar o casaco sozinho?

Não, aquilo tinha um peso mesmo, era um problema. Tipo… nós temos que trabalhar no desenvolvimento dele, ele não consegue pôr o casaco sozinho e ir para o recreio. Eu lembro que nós ficamos bem impactados, mas, claro, o tempo aqui é muito ruim. Não interessa se está chovendo ou nevando, as crianças sempre vão para áreas abertas para criar essa resiliência e, numa turminha com muitas crianças, uma que não põe o casaco sozinha é um problema. Eles acham que as mães latinas mimam muito as crianças.

Numa época, o Rocco fazia uma aulinha de futebol e eu achava aquilo uma coisa inacreditável, na chuva e frio. Um dia começou a chover granizo e ele vinha com as mãozinhas me dizer ‘mamãe tá doendo’ e eu lembro que essa minha amiga inglesa dizia: ‘Fernanda, esse é o jeito que a gente faz as coisas nesse país’. 

Com a vida que tem aqui, o clima que tem aqui, é de pequeno que se torce o pepino. Não dá para ficar esperando um dia de sol para ir ao parque, tu vai porque tem que ir, tem uma atividade ao ar livre. Agora meus filhos cresceram. O Rocco tem 8 e a Lola tem 6 anos, e ele estava jogando e o dia estava frio, mas com sol, depois, choveu e nevou e nós ficamos lá. 

É engraçado porque é outra realidade, aqui nós temos menos assistência, então a criança pega a banana e tem que descascar. Uma coisa engraçada também, quando a Lola nasceu, foi que aqui não tem aquela coisa de fazer a consulta dos 10 dias com o pediatra e todas aquelas coisas, tu vai em um tipo de serviço do sistema de saúde que atende as mães e eles dão orientações. Eu lembro que eu queria orientações da história da sopinha, como a gente começa, porque em Porto Alegre ele tinha o feijãozinho dele e a mulher ficou me olhando como se eu fosse maluca. ‘Ele come a comida da casa, o que a casa vai comer hoje?’, respondeu ela

Aí nós começamos a entender. Criar um filho assim, a gente vê lá na frente as diferenças no mercado de trabalho. Antes de ir para a escolinha, no maternal, com três anos, em outra reunião me disseram: ‘Ele está bem, mas tem que fazer frases mais complexas’. Depois, você liga a televisão aqui e vê todos esses políticos falando bem, é impressionante o que se investe na oratória.

É quando tu está no maternal que começa esse estímulo, esse conceito de empoderamento, tipo quando a gente chega na casa dos amigos e diz assim: ‘dá oi para a titia’ e a criança não dá e você deixa assim.

Aqui não tem isso, você olha no olho da pessoa e cumprimenta. Aqui as crianças se despedem da professora esticando a mão.

Teve uma situação na pracinha que o Rocco caiu e eu fui correr para ajudar ele e uma outra amiga minha inglesa que morou no Brasil disse: ‘deixa ele, Fernanda’. Mas, por exemplo, me impressiona muito outras coisas, como a história de existir aqui uma tendência fortíssima de internato para crianças muito novas a partir de 8 ou 9 anos. Você tem escolas só de meninos ou só de meninas.

Aqui é muito focado no desempenho. Por exemplo, para você ter melhores notas é melhor colocar todo mundo que tira nove em matemática na mesma turma e deixar os que tiram cinco em outra. É um conceito que eles têm aqui, eu acho que a gente aprende muito como ser humano, empatia e compaixão, o cara que tira nove esperar pelo que tira cinco. 

É um estereótipo dizer que o inglês é frio, por exemplo, ele é criado de uma forma diferente, são empurrados para vida, para toda essa independência. Uma criança que vai para um internato, é diferente de uma criança que ficou dormindo no sofazinho, eles moldam a personalidade.”

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Este post tem 4 comentários

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