Um filme de amor dos mais bonitos que já vi.
Aquele amor que chega quando os dias são apenas rotina. Não tem paixão tórrida, impensada, brotando pela pele e poros. Não é ardência que late no corpo. É amor apreendido. De quem já viveu quase tudo. Que já entendeu o que vale na vida. É um amor terno, delicado e com doses fortes de paciência.
“À espera do amanhã”, no Prime Vídeo, mostra as fragilidades, quase irritantes, dos personagens. É tudo tão real, tão sem filtro, que ficar com os olhos arregalados a cada mostra das “imperfeições” do casal é ato que se repete.
Tudo está decidido: ele é assim, ela é assim. Aos poucos vão desvendando seus jeitos de ser. Nada bonitos. Eles estão estáticos na vida. A rotina é companheira. Mas, eis, ora vejam só, que chega o amor. De lado, tropeçando na falta de prática. E a personagem feminina, Ronnie, é quem decide tolerar e aprender sobre esse velho chato. Ed, interpretado em tom perfeito pelo ator John Lithgow, a vê antes. Na fila do caixa, no supermercado, ele se perde no movimento que ela faz para ajeitar as mechas do cabelo que caem sobre seu o rosto. Fica extasiado.
Dois planetas diferentes. Ele, meticuloso, obsessivo, prevê o controle de seu próprio fim como uma hecatombe. Vive o presente aguardando um futuro catastrófico, final dos tempos. Ela vive o passado e são tantas coisas que ela vê nos detalhes do mundo presente. Como um vidro de perfume antigo, meio rosa, meio lilás. Ela guarda tudo que teve e tem. Ele guarda tudo para o futuro.
O filme é tão bonito e doce, tão cheio de possibilidades. A direção navega junto com um roteiro e uma câmera em olhar amoroso para os personagens. Um filme tocante. Tocante, esperançante
E nos ensina que amar é exercício diário. A cada dia um pequeno passo. E quando se vê já estamos lá na frente. E os empedernidos Ronnie e Ed mudam um ao outro. Quando nada mais era esperado que viesse a acontecer com os dois.
Texto por Fatima Torri