Carta da Editora, Coluna

Um amor assim delicado!

Um filme de amor dos mais bonitos que já vi.

Aquele amor que chega quando os dias são apenas rotina. Não tem paixão tórrida, impensada, brotando pela pele e poros. Não é ardência que late no corpo. É amor apreendido. De quem já viveu quase tudo. Que já entendeu o que vale na vida. É um amor terno, delicado e com doses fortes de paciência.

“À espera do amanhã”, no Prime Vídeo, mostra as fragilidades, quase irritantes, dos personagens. É tudo tão real, tão sem filtro, que ficar com os olhos arregalados a cada mostra das “imperfeições” do casal é ato que se repete.

Tudo está decidido: ele é assim, ela é assim. Aos poucos vão desvendando seus jeitos de ser. Nada bonitos. Eles estão estáticos na vida. A rotina é companheira. Mas, eis, ora vejam só, que chega o amor. De lado, tropeçando na falta de prática. E a personagem feminina, Ronnie, é quem decide tolerar e aprender sobre esse velho chato. Ed, interpretado em tom perfeito pelo ator John Lithgow, a vê antes. Na fila do caixa, no supermercado, ele se perde no movimento que ela faz para ajeitar as mechas do cabelo que caem sobre seu o rosto. Fica extasiado.

Dois planetas diferentes. Ele, meticuloso, obsessivo, prevê o controle de seu próprio fim como uma hecatombe. Vive o presente aguardando um futuro catastrófico, final dos tempos. Ela vive o passado e são tantas coisas que ela vê nos detalhes do mundo presente. Como um vidro de perfume antigo, meio rosa, meio lilás. Ela guarda tudo que teve e tem. Ele guarda tudo para o futuro.   

O filme é tão bonito e doce, tão cheio de possibilidades. A direção navega junto com um roteiro e uma câmera em olhar amoroso para os personagens. Um filme tocante. Tocante, esperançante 

E nos ensina que amar é exercício diário. A cada dia um pequeno passo. E quando se vê já estamos lá na frente. E os empedernidos Ronnie e Ed mudam um ao outro. Quando nada mais era esperado que viesse a acontecer com os dois.

Texto por Fatima Torri

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