Elas malham, trabalham e nem sempre gostam de cozinhar. Não que antes não pudesse ser assim, mas as avós de hoje em dia têm, em sua maioria, uma rotina diferente das do passado. A importância do papel e o amor pelos netos, entretanto, seguem os mesmos.
Não se fazem mais avós como antigamente
As avós de hoje já não têm necessariamente cabelos brancos, nem sempre são aposentadas ou ficam em casa fazendo gostosuras para esperar os netos. Elas são ativas e, com frequência, ainda têm vida social agitada, trabalho diário e agenda cheia. O que não muda é a importância delas na vida dos filhos e netos. Confira os depoimentos de quatro avós com diferentes vivências e o mesmo amor profundo pelos netos.
Zuca Feijó, uma avó confeitada de açúcar
“Ser avó aos 52 anos nem foi tão cedo assim. Me pegou com vigor físico, em plena atividade profissional. Posso dizer que foi o acontecimento mais importante, feliz, lindo e gratificante da minha vida”, é o que afirma a eterna florista Zuca Feijó, avó de seis netos, três de cada filho. “Foi um amor tão grande que brotou de repente, um orgulho imenso dos meus filhos que me transformou numa ‘gigantona’ confeitada de açúcar”, compartilha.
A participação na vida dos netos, entretanto, sempre teve limites.
“Calma, Vovó Zuca, essas crianças não são tuas, foi o que pensei. Meu bom senso me botou limites”.
Segundo ela, há hora para chegar e hora para sair, “uma vovó por perto, atenta, presente, ajudando e não interferindo”.
A pandemia afastou e afetou a família, como a tantas outras. “Meu filho mora nos Estados Unidos e não nos vimos em 2020. O neto mais velho fez 15 anos em setembro e a gente longe. Os daqui também têm medo de passar o vírus para a avó, então estamos respeitando o distanciamento regulamentar”. As boas lembranças são o que sustenta diante da saudade.
Para Maryur Silber, ser avó é “jogar na segunda divisão”
Para ser a avó que é, Maryur se inspira nas avós que a precederam. “Minha mãe foi uma avó muito segura e participativa que, sem ser ‘das antigas’, ajudou sempre que necessário, da fase de bebês até a idade adulta”. Ela conta não ter conhecido a avó paterna, mas tem a avó materna, Glorinha, como grande referência. “Ela era tudo para mim. Foi, sem dúvida, quem me amou mais e melhor, acho que para ela eu fui ‘the best’”. Na visão de Maryur, Glorinha era culta, inteligente, leitora voraz, acolhedora e ainda conseguia cozinhar divinamente. Era uma espécie de líder política e social lá pelos anos 50, 60, na cidade onde morava, São Sebastião do Caí. “Mas estava sempre disponível para nos receber ou vir para Porto Alegre se minha mãe precisasse.”
Maryur foi avó aos 44 anos da Carolina, aos 46 do Rafael e, passados mais de 20 anos, dos gêmeos Valentina e Eduardo, todos do filho Pedro Alberto, e de Davi Luiz, o único da filha Lúcia. “Fui e sou uma avó presente sempre que solicitada, pois aprendi com minha sogra, mulher admirável, que a boa sogra não se intromete nem dá palpite”. Segundo Maryur, há diferença na forma de agir como avó paterna e avó maternal. “Avó paterna não chega de surpresa, não almoça sem ser convidada, não tem segredinhos com as mães das crianças. Mas nos dias de programas tem diversão e aprendizado puros. Eles amam e eu também.”
Contrariando o estereótipo de vovó que vive na cozinha, Maryur costuma agradar os netos pedindo pizza.
“Sou uma avó que não cozinha, mas compenso em programas superdivertidos na rua ou em casa”, garante.
Questionada sobre a diferença entre os papéis de mãe e avó, ela se apropria de linguagem futebolística para explicar sua percepção: “ser vó é jogar na segunda divisão”.
Para ela, há uma tênue fronteira entre a absoluta liberdade que teve como “pãe” para criar e educar os filhos e a não participação nas decisões educacionais dos netos. É essa a grande diferença que enxerga entre os dois papéis. “Ser avó é uma consequência da maternidade e meu objetivo primeiro foi ser uma boa mãe para meus filhos. Acho que consegui”, finaliza.
“Vóternidade” é a prioridade de Heloísa Bocorny
A arquiteta Heloísa Bocorny esperava ansiosa pela “vóternidade”. O “presente”, como classifica, chegou aos 60 anos, o que considera tarde por de ter sido mãe aos 21. “Quando os netos começaram a chegar, vieram três em seis meses. Hoje tenho seis”, comenta. Ela diz não sentir qualquer entrave na relação com filhos e esposas. “Só tenho filhos homens, mas tanto eles como as noras não impediram que eu tivesse com meus netos uma relação muito plena e participativa.”
Sobre as mudanças na criação dos filhos ao longo do tempo, ela diz que a alimentação é o que mais chamou a atenção.
“Aprendi com minhas noras novos hábitos para as crianças. Criei filhos em uma época que se dava guaraná, bolacha Maria, farinha láctea e outras cositas más”.
“Não tem receita pronta nem para ser mãe e tampouco avó. A diferença básica é a responsabilidade. Tenho noras e filhos muito bons pais e para mim sobra o lado lúdico e afetivo da relação”, relata. “Ser mãe foi o meu melhor projeto e ser avó é a minha prioridade”.
Helena Tonetto, uma avó completamente ativa
Psicóloga de formação, fundadora do Substância Gastronomia Light, Helena Tonetto tornou-se avó aos 65 anos. Ela conta estar se preparando há algum tempo para ter o pique necessário para ser a avó que é: que brinca no chão, rola, engatinha e canta com a neta Manuela. “Faço atividades físicas regulares quatro vezes por semana para manter agilidade, resistência, equilíbrio, flexibilidade, força e velocidade em dia. No começo confesso que sentia dor no braço e na lombar ao ficar embalando para dormir. Resolvi aumentar as aulas de reforço e, hoje, mantendo as aulas, estou preparada para o que der e vier”, enfatiza.
Durante a gravidez da nora Marina, Helena resolveu se preparar para o papel de avó.
“Assistia a todas as séries de Netflix sobre bebês, passei a ler livros sobre Infância, seguir Instagram que tem conexão com o mundo dos bebês, troquei ideia com amigas avós e com a Marina”.
Ela diz dialogar com os pais para ter as diretrizes principais e as respeita. “Como avó de primeira viagem, ficava atenta às demandas. Meu objetivo era oferecer apoio e conforto na medida que desejassem”, relata. Assim, reaprendeu a trocar fralda, fazer nanar, arrotar e, após os primeiros meses, passou a ajudar a nora em outras demandas da rotina, como ajudar a encontrar uma boa babá.
Manuela nasceu em plena pandemia, em 18 de março do ano passado. As restrições foram muitas em razão disso. No começo, fazia videoconferências e mimava os pais com agrados como o envio de comidinhas para livrá-los da tarefa na cozinha. “Só pegamos a Manuela no colo com um mês. Para isso, fizemos os testes de Covid e tomamos todos os cuidados. Agora, com nove meses, já tivemos a primeira experiência positiva da Manu vir dormir na nossa casa, com o vovô e vovó”, conta Helena.
A volta da mãe ao trabalho abriu uma nova janela de oportunidade para que a avó contribuísse mais para o equilíbrio das rotinas da nova família. “Passei a ir duas tardes fixas para ficar com a Manu a partir dos cinco meses. Dessa forma, consigo conciliar minha vida profissional e meu desejo de efetivamente assumir meu papel de avó. Essa construção do vínculo com a neta é uma experiência linda, enriquecedora, a cada dia cresce a interação e a intimidade, é muito bonita a troca”, conclui.
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